quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ATIVIDADE DO 3º SEMESTRE DE PEDAGOGIA - 23/02/2012

SERES HUMANOS E SUAS TECNOLOGIAS NO TEMPO E NO ESPAÇO

DESDE NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO, TEMOS DISCUTIDO SOBRE AS RELAÇÕES DOS SERES HUMANOS COM AS TECNOLOGIAS QUE ELE MESMO CRIA, SOBRE O IMPACTO DELAS NA VIDA COTIDIANA, O QUE AUTOMATICAMENTE INCLUI NESTE ROL A REFLEXÃO SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DO USO OU DA RECUSA DAS TECNOLOGIAS.

TRATA-SE DE UM ASSUNTO POLÊMICO, DE UM DEBATE NECESSÁRIO E RELEVANTE, DESDE QUE SE LEVE EM CONTA QUE PARA PENSAR NO PRESENTE E NO FUTURO, PRECISAMOS VISITAR E REVER NOSSO PASSADO SÓCIO-HISTORICAMENTE SITUADO.

NA ATIVIDADE DE HOJE, FAREMOS UMA VIAGEM NA HISTÓRIA, ACOMPANHADOS DE GALILEU GALILEI E DE EDGAR MORIN. NO PRIMEIRO FRAGMENTO, VOCÊ LERÁ PARTE DA PEÇA TEATRAL DE BERTOLD BRETCH, QUE APRESENTA UM DIÁLOGO RIQUÍSSIMO ENTRE O CIENTISTA E SEU APRENDIZ ANDREA.

NO SEGUNDO EXCERTO, VOCÊ CONHECERÁ PARTE DO PENSAMENTO DO FILÓSOFO EDGAR MORIN QUANTO ÀS INCERTEZAS HISTÓRICAS QUE O FUTURO NOS RESERVA.

APÓS AS LEITURAS, DISCUTA COM SEUS COLEGAS SOBRE O IMPACTO QUE OS FATOS HISTÓRICOS CAUSAM EM NOSSAS VIDAS. INCLUA EM SEU DEBATE TUDO QUE VOCÊ PENSOU OU SENTIU AO SE DAR CONTA DE QUE O FUTURO É "COMPLETAMENTE" IMPREVISÍVEL E INCONTROLÁVEL. 

TUDO SE MOVE, MEU AMIGO


            [...] Há dois mil anos a humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giram em torno dela. O papa, os cardeias, os príncipes, os sábios, capitães, comerciantes, peixeiras e crianças de escola, todos achando que estão imóveis nessa bola de cristal. Mas agora nós vamos sair para fora, Andrea, para uma grande viagem. Porque o tempo antigo acabou, e agora é um tempo novo. Já faz cem anos que a humanidade está esperando alguma coisa.
            As cidades são estreitas, e as cabeças também. Superstição e peste. Mas, agora, veja o que se diz: se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se move, meu amigo.
            Gosto de pensar que tudo tenha começado com os navios. Desde que há memória, eles vinham se arrastando ao  longo da costa, mas, de repente, deixaram a costa e exploraram os mares todos.
            Em nosso velho continente nascia um boato: existem continentes novos. E agora que os nossos barcos navegam até lá, a risada é geral nos continentes. O que se diz é que o grande mar temido é uma lagoa pequena. E surgiu um grande gosto pela pesquisa de todas as coisas: saber por que cai a pedra se a soltamos, e como sobe a pedra que arremessamos. Não há dias em que não se descubra alguma coisa. Até os velhos e os surdos puxam conversa para saber das últimas novidades.
            Já se descobriu muita coisa, mas há mais coisas ainda que poderão ser descobertas. De modo que também as novas gerações têm o que fazer.
            Em Siena, quando moço, vi uma discussão de cinco minutos sobre a melhor maneira de mover blocos de granito; em seguida, os pedreiros abandonaram uma técnica milenar e adotaram uma disposição nova e mais inteligente das cordas. Naquele lugar e naquele minuto fiquei sabendo: o tempo antigo passou, e agora é um tempo novo. Logo a humanidade terá a idéia clara de sua casa, do corpo celeste que ela habita. O que está nos livros antigos não lhe basta mais.
            Pois onde a fé teve mil anos de assento, sentou-se agora a dúvida. Todo mundo diz: é, está nos livros -, mas agora nós queremos ver com nossos olhos.
            As verdades mais consagradas são tratadas sem cerimônia; o que era indubitável, agora é posto em dúvida. Em conseqüência, formou-se um vento que levanta as batinas brocadas dos príncipes e prelados, e põe à mostra pernas gordas e pernas de palito, pernas como as nossas pernas. Mostrou-se que os céus estavam vazios, o que causou uma alegre gargalhada.
            Mas as águas da Terra fazem girar as novas rocas, e nos estaleiros, nas casas de cordame e de velame, quinhentas mãos se movem em conjunto, organizadas de maneira nova.
            Predigo que a astronomia será comentada nos mercados, ainda em tempos de nossa vida.  Mesmo os filhos das peixeiras quererão ir à escola. Pois os habitantes de nossas cidades, sequiosos de tudo que é novo, gostarão de uma astronomia  nova, em que também a Terra se mova. O que constava é que as estrelas estão presas a uma esfera de cristal para que não caiam. Agora juntamos coragem, e deixamos que flutuem livremente, desancoradas e elas estão em grande viagem, como as nossas caravelas, desancoradas, e em grande viagem.
            E a Terra rola alegremente em volta do Sol, e as mercadoras de peixe, os comerciantes, os príncipes, os cardeais, e mesmo o papa, rolam com ela.
            Uma noite bastou para que o universo perdesse o seu ponto central; na manhã seguinte, tinha uma infinidade deles. De modo que agora qualquer um pode ser visto como centro, ou nenhum. Subitamente há muito lugar. Nossos navios viajam longe. As nossas estrelas giram no espaço longínquo, e mesmo no jogo de xadrez, agora a torre atravessa o tabuleiro de lado a lado. Como diz o poeta: “ó manhã dos inícios!...
Fonte: A vida de Galileu – Bertold Brecht




OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO – EDGAR MORIN


            Ainda não incorporamos a mensagem de Eurípedes, que é a de estarmos prontos para o inesperado. O fim do século XX foi propício, entretanto, para compreender a incerteza irremediável da história humana.

            Os séculos precedentes sempre acreditaram em um futuro, fosse ele repetitivo ou progressivo. O século XX descobriu a perda do futuro, ou seja, sua imprevisibilidade. Esta tomada de consciência deve ser acompanhada por outra, retroativa e correlativa: a de que a história humana foi e continua a ser uma aventura desconhecida. Grande conquista da inteligência seria poder enfim se libertar da ilusão de prever o destino humano. 

            O futuro permanece aberto e imprevisível. Com certeza, existem determinantes econômicas, sociológicas e outras ao longo da história, mas estas encontram-se em relação instável e incerta com acidentes e imprevistos numerosos, que fazem bifurcar ou desviar seu curso.
          
         As civilizações tradicionais viviam na certeza de um tempo cíclico, cujo funcionamento devia ser assegurado por sacrifícios às vezes humanos. A civilização moderna viveu com a certeza do progresso histórico. A tomada de consciência da incerteza histórica acontece hoje com a destruição do mito do progresso. O progresso é certamente possível, mas é incerto.


A INCERTEZA HISTÓRICA

            Quem teria pensado, na primavera de 1914, que um atentado cometido em Sarajevo desencadearia a guerra mundial que duraria quatro anos e que faria milhões de vítimas?
            Quem teria pensado, em 1916, que o exército russo se desagregaria e que um pequeno partido marxista, marginal, provocaria, contrariamente à própria doutrina, a revolução comunista em outubro de 1917?
            Quem teria pensado, em 1918, que o tratado de paz assinado trazia em si os germes da Segunda Guerra Mundial, que arrebentaria em 1939?
            Quem teria pensado, na prosperidade de 1927, que uma catástrofe econômica, iniciada em 1929, em Wall Street, se abateria sobre o planeta?
            Quem teria pensado, em 1930, que Hitler chegaria legalmente ao poder em 1933?
            Quem teria pensado, em 1940-41, afora alguns irrealistas, que o formidável domínio nazista sobre a Europa, após os impressionantes progressos da Wehrmacht na URSS até as portas de Leningrado e Moscou, seria acompanhado em 1942 pela reviravolta total da situação?
            Quem teria pensado, em 1943, durante plena aliança entre soviéticos e ocidentais, que a guerra fria se manifestaria três anos mais tarde entre estes mesmos aliados?
            Quem teria pensado, em 1980, afora alguns iluminados, que o Império Soviético implodiria em 1989?
            Quem teria imaginado, em 1989, a Guerra do Golfo e a guerra que esfacelaria a Iugoslávia?
            Quem, em janeiro de 1999, teria sonhado com os ataques aéreos sobre a Sérvia, em março de 1999, e no momento em que estas linhas são escritas, pode medir suas consequências?
            Ninguém pode responder a estas questões no momento da escrita destas linhas, que , talvez, ficarão ainda sem resposta durante o século XXI. Como dizia Patocka: 'O devenir é doravante problematizado e o será para sempre.' O futuro chama-se incerteza.


UM MUNDO INCERTO

            A aventura incerta da humanidade não faz mais do que dar prosseguimento, em sua esfera, à aventura incerta do cosmo, nascida de um acidente impensável para nós, e que continua no devenir de criações e destruições.

            Aprendemos, no final do século XX que, à visão do universo obediente a uma ordem impecável, é preciso substituir a visão na qual este universo é o jogo e o risco da dialógica/dialética (relação ao mesmo tempo antagônica, concorrente e complementar) entre a ordem, a desordem e a organização.

            A Terra,  provavelmente, em sua origem – um monte de detritos cósmicos oriundos de uma explosão solar - , ela própria se auto-organizou na dialógica entre ordem/desordem/organização e sofreu não apenas erupções e terremotos, mas também o choque violento de aerólitos, dos quais um talvez tenha provocado o desprendimento da Lua.


            ENFRENTAR AS INCERTEZAS

            Nova consciência começa a surgir: o homem, confrontado de todos os lados pelas incertezas, é levado em nova aventura. É preciso aprender a enfrentar a incerteza, já que vivemos em uma época de mudanças em que os valores são ambivalentes, em que tudo é ligado. É por isso que a educação do futuro deve se voltar para as incertezas ligadas ao conhecimento.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ATIVIDADE DO 3º SEMESTRE DE PEDAGOGIA - 16/02/12

O QUE É O VIRTUAL?


ESTA PERGUNTA ENTITULA UM DOS LIVROS DO FILÓSOFO PIERRE LÉVY, NO QUAL SÃO DISCUTIDOS PONTOS CRUCIAIS PARA A DEFINIÇÃO DESSE FENÔMENO DO QUAL SOMOS CONTEMPORÂNEOS: A VIRTUALIZAÇÃO.
LEIA AS CITAÇÕES ABAIXO E TROQUE ALGUMAS IDEIAS COM SEUS COLEGAS A RESPEITO DESSA TEMÁTICA. REGISTRE AQUI NO NOSSO BLOG O QUE VOCÊ ENTENDE COMO "VIRTUAL".

A palavra virtual é empregada com frequência para significar a pura e simples AUSÊNCIA DE EXISTÊNCIA, a “realidade” supondo uma efetuação material, uma presença tangível.
O real seria da ordem do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás”, ou da ilusão, o que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização.
A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. A árvore está virtualmente presente na semente. É o “vir a ser”.
O virtual é um complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer. O problema da semente, por exemplo, é fazer brotar uma árvore. A semente “é” esse problema, mesmo que não seja somente isso. O que significa que ela “conhece” exatamente a forma da árvore que expandirá finalmente sua folhagem acima dela. A partir das coerções que lhe são próprias, deverá inventá-la, co-produzi-la com as circunstâncias que encontrar.
Por um lado, a entidade carrega e produz suas virtualidades: um acontecimento, por exemplo, reorganiza uma problemática anterior e é suscetível de receber interpretações variadas. Por outro lado, o virtual constitui a entidade: as virtualidades inerentes a um ser, sua problemática, o nó de tensões, de coerções e de projetos que o animam, as questões que o movem, são uma parte essencial de sua determinação.
O que é virtualização? Não mais o virtual como maneira de ser, mas a virtualização como dinâmica. A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma “elevação à potência” da entidade considerada.
A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado. Virtualizar uma entidade qualquer consiste em descobrir uma questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutar a entidade em direção a essa interrogação e em redefinir a atualidade de partida como resposta a uma questão particular. A virtualização é um dos vetores da criação da realidade.



NÃO ESTAR PRESENTE: A VIRTUALIZAÇÃO COMO  ÊXODO



A virtualização pode ser definida pela característica de ser um desprendimento do aqui e do agora. O senso comum faz do virtual inapreensível, o complementar do real, tangível.
Claro que é possível atribuir um endereço a um arquivo digital, mas nessa era de informações online, esse endereço seria de qualquer modo transitório e de pouca importância.
(LEMBREM-SE DE QUE HOJE O ARMAZENAMENTO DE ARQUIVOS É FEITO EM “NUVENS”)
Desterritorializado, presente por inteiro em cada uma de suas versões, de suas cópias e de suas projeções, desprovido de inércia, habitante ubíquo do ciberespaço, o hipertexto contribui para produzir aqui e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de leitura.
Quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam “não-presentes”, se desterritorializam. Uma espécie de desengate os separa do espaço físico ou geográfico ordinários e da temporalidade do relógio e do calendário.
(JOGAR VÍDEO GAMES COMO NINTENDO WII  E X-BOX KINECT FACILITAM ENTENDER ESSE FENÔMENO)
Ubiqüidade, simultaneidade, distribuição irradiada ou massivamente paralela. A virtualização submete a narrativa clássica a uma prova rude: unidade de tempo  sem unidade de lugar (graças à interações eletrônicas, às transmissões ao vivo, aos sistemas de telepresença), continuidade de ação apesar de uma duração descontínua (como comunicação por secretária eletrônica ou por correio eletrônico).
Além de trazer novas noções sobre tempo e velocidade, outro efeito pode ser percebido na virtualização: a passagem do interior ao exterior e do exterior ao interior. As relações entre privado e público, próprio e comum, subjetivo e objetivo, mapa e território, autor e leitor, etc.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ATIVIDADE INICIAL DE LINGUAGEM E TECNOLOGIA - 3o DE PEDAGOGIA


MANIFESTO DOS PLANETÁRIOS

AUTO-RETRATO DOS PLANETÁRIOS

Aqui estamos. Nós. Os planetários. Conduzimos os mesmos veículos, tomamos os mesmos aviões, utilizamos os mesmos hotéis, temos as mesmas casas, as mesmas televisões, os mesmos telefones, os mesmos computadores, os mesmos cartões de crédito. Informamo-nos na câmara de eco dos meios de comunicação mundializados. Navegamos na Internet. Temos o nosso site. Participamos na silenciosa explosão do hipercórtex infinitamente reticulado do World Wide Web. ouvimos músicas de todos os cantos do mundo: raï, rap, reggae, samba, jazz, pop, sons da África e da Índia, do Brasil ou das Antilhas, música céltica e música árabe, estúdios de Nashville ou de Bristol...Dançamos como loucos ao ritmo da techno mundial em rave parties sob a luz zebrada de idênticos raios estroboscópicos. Lemos os nossos livros e os nossos jornais na grande biblioteca mundial unificada de Babel. Misturados com turistas, visitamos museus cujas coleções cruzam as culturas. As grandes exposições de que gostamos giram em torno do planeta como se a arte fosse um novo satélite da Terra. Estamos todos interessados nas mesmas coisas: todas as coisas. Nada do que é humano nos é estranho.

Nós, os planetários, consumimos no mercado mundial. Comemos à mesa universal, baunilha e kiwi, coentros e chocolate, cozinha chinesa e cozinha indiana. Quando alguns rabugentos querem polarizar o nosso olhar sobre a distribuição de hamburguers de má qualidade ou de bebidas gasosas com açúcar, preferimos apreciar o alargamento do leque de possibilidades: poderíamos provar tantos frutos diferentes, tantas especiarias, tantos vinhos e licores há cinquenta anos, há cem anos?

Assistimos (e organizamos) colóquios internacionais, uma instituição rara e reservada a uns poucos há ainda cinquenta anos, mas que se torna hoje um desporto massificado. Acontece que a nossa reputação ultrapassa as fronteiras do país em que nascemos. Somos traduzidos em várias línguas, ou então não temos necessidade de ser traduzidos porque trabalhamos nas artes visuais, na música, na moda, no desporto. O nosso talento é reconhecido por toda a parte. E pouco importa que este talento seja acolhido num país ou noutro. Queremos simplesmente que ele desabroche.

Pouco a pouco, sem que nós nos tenhamos dado conta disso de imediato, o mundo chegou à nossa mão e fizemos dele o nosso campo de ação. A envergadura dos nossos atos aumentou até atingir as margens diante de nós. Temos clientes, parceiros e amigos por todos o lado. De súbito, aprendemos progressivamente a maneira de nos dirigirmos a toda a gente, a todo o mundo. Os nossos compatriotas estão por toda a Terra. Começamos a constituir a sociedade civil mundial.

Somos cada vez mais numerosos. Trabalhamos numa empresa multinacional ou transnacional, na diplomacia, na tecnologia de ponta, na investigação científica, nos meios de comunicação, na publicidade. Somos artistas, escritores, cineastas, músicos, professores, funcionários, internacionais, futebolistas, alpinistas, navegadores solitários, comerciantes, hospedeiras do ar, consultores, acionistas, militantes de associações internacionais. Cotidianamente, para o melhor e para o pior, para compreender ou para sobreviver, para os amores ou para os negócios, em número cada vez maior, temos de olhar, comunicar e talvez agir para lá das fronteiras. Somos a primeira geração de pessoas que existe à escala do globo. Homens e mulheres políticos, drogados, manequins, gente de negócios, prostitutos, terroristas, vítimas de catástrofes televisivas, cozinheiros, consumidores, telespectadores, internautas, imigrados, turistas: somos a primeira geração global.

Nenhuma geração alguma vez viajou tanto como a nossa, tanto para o trabalho como para o prazer. O turismo tornou-se a maior indústria mundial. Nunca emigramos tanto como hoje, quer sejamos pobres atraídos pelo trabalho, quer sejamos ricos em busca de melhores condições fiscais ou de uma remuneração mais justa da nossa competência. Inversamente, nunca alimentamos, acolhemos, integramos, assimilamos e educamos tantos estrangeiros.

Já não somos sedentários, somos móveis. Também não somos nômades, porque os nômades não tinham campos nem cidades. Móveis: que passam de uma cidade para outra, de um bairro para outro da megalópole mundial. Vivemos em cidades ou metrópoles em relação umas com as outras, que serão (que já são) as nossas verdadeiras unidades de vida, muito mais que são como navios no alto mar, conectados a todas as redes.

Somos budistas americanos, informáticos indianos, ecologistas árabes, pianistas japoneses, médicos sem fronteiras. Como estudantes, para aprender por toda a parte, circulamos cada vez mais em torno do globo. Vamos onde podemos ser úteis. Graças a Internet, damos a conhecer o que temos a oferecer à escala do planeta. Como produtores de vinho ou de queijo, instalamos um sistema de venda popr correspondência na Web. A nossa geração está a inventar o mundo, o primeiro mundo verdadeiramente mundial.

Já não nos agarramos a um ofício, a uma nação ou a qualquer identidade. Mudamos de regime alimentar, de profissão, de religião. Saltamos de uma existência para outra, inventamos continuamente a nossa atividade e a nossa vida. Somos instáveis, tanto na nossa vida familiar como na nossa vida profissional. Casamo-nos com pessoas de outras culturas e de outros cultos. Não somos infiéis, somos móveis.

A nossa identidade é cada vez mais problemática. Empregado? Patrão? Trabalhador autônomo? Pai? Filho? Amigo? Amante? Marido? Mulher? Homem? Nada é simples. Cada vez mais, tudo tem de ser inventado. Não temos modelos. Somos os primeiros a entrar num espaço completamente novo. Entramos no futuro que inventamos calcorreando o planeta.

PIERRE LÈVY


Agora discuta com seus colegas sobre as afirmações do filósofo quanto ao uso das tecnologias na vida moderna. Considere os pontos positivos e negativos da revolução tecnológica que vivenciamos.

Lembre-se: o que há de mais importante em um blog é sua característica democrática Lde abrir espaço para os diferentes pontos de vista de seus usuários. Trave conversas edificantes com seus colegas, assim todos nós construiremos nosso conhecimento de forma colaborativa!! Comente quantas vezes quiser. Bom trabalho!!